domingo, 2 de novembro de 2014

Epílogo



Defronte às águas claras do Oceano Índico, Pryia sente uma emoção forte e estranha. Aperta a mão de Purvasu sob a areia quente. Este está impassível. Triunfante, ele mira o mar. Muitas seriam as razões para o indefinível sentimento de ambos. O início deles está ali. Foi sob a forma de coloides que Prya foi quimicamente atraída por Purvasu bilhões de anos atrás. A própria Índia também venceu aqueles mares, quando desprendeu-se da Antártida e solitariamente atravessou todo o Índico em direção ao norte até chocar-se com a Ásia, erguendo o Himalaia. Da Índia, partiu a caravana de homens que colonizaram a Europa.

Urocordados



Ascídias? Aqueles seres presos a substratos no fundo do mar são cordados? Não estão mais para poríferos? Sim, eles são cordados. Não são poríferos. Tudo bem, onde está sua notocorda? Não está ali. Como? É simples, a notocorda só aparece nas ascídias em sua fase larval. Mais precisamente em sua cauda. Daí o nome do subfilo a que pertencem: Urochordata. Corda na cauda.

Aurora dos Equinodermos

Seguindo em frente e acompanhando a Evolução, deparamo-nos com um avançado grupo de animais, os Equinodermos. Avançados? Depois de tudo o que houve? Depois dos artrópodes, anelídeos e todos os outros? Estes são possíveis questionamentos a serem bradados. Ouriço-do-mar, estrelas-do-mar e pepinos-do-mar não são quase espongiários? Errado. São seres muito evoluídos. Apenas alguns são sésseis, presos a substratos. A maioria possui um sistema ambulacral para locomoção. Um sistema hidráulico para mover-se e para mover a circulação e o sistema excretor.

Aurora das Aves


Deixemos a família de Purvasu observemos a família de Mangala e Ananda. Ambos são aves agora. Deixaram de ser répteis há milhões de anos. Assim como os mamíferos, as aves também têm uma temperatura corporal própria e independente do ambiente. Mangala e Ananda são homeotérmicos também. Entretanto, não possuem pêlos para manutenir o calor por perto do corpo. Possuem penas. Contudo, não voam. Voar é uma esplendorosa conquista que as aves exibirão ao mundo no futuro, embora alguns insetos já o façam. Por hora, as penas servem somente para regular a temperatura.
No ninho de Mangala, Maharatha e seus irmão sabem o quefazer. Abrem bem seu bico para receber o leite de sua mãe Ananda. Leite? Ninho? Mas não são aves? Sim. Contudo, trata-se do "leite de papo".
As aves, no período reprodutivo, possuem em seu sistema digestório um papo onde o parte do alimento é guardado e enriquecido com proteínas e lipídios. Dali, essa substância é regurgitada para o bico aberto dos famintos animaizinhos.

Os ancestrais de Mangala e Ananda entusiasmaram-se com a possibilidade de viver em árvorese muitas seleções naturais foram realizadas para coletar aqueles mais capacitados para tal mister. As penas que possuem têm a função precípua de regular a temperatura corporal. Lembre-se: os grupos animais que derivaram dos répteis recusaram a pecilotermia. A evolução do tal "sangue frio" parou nos répteis. Eles pulavam entre os galhos das árvores e, em certo momento, começaram a planar.

A musculatura peitoral, associada à quilha, uma projeção do esterno, distinguiu-se para aprimorar o voo. Em certo momento da evolução, esses animais conseguiram manter-se em voo, sustendo-se no ar com a batida de suas asas.

Voltemos ao embrião. Como qualquer estrutura cordada, ele precisa de um eixo de sustentação. Uma notocorda será traçada e servirá de molde para uma posterior coluna vertebral. Perceba, a notocorda não se transformará em coluna vertebral, mas consistirá em uam espécie de régua para tal. O anfioxo é uma animal em que a notocorda persistirá em seu corpo por toda a vida. Isso é uma raridade. Na esmagadora maioria dos cordados, a notocorda não passa da vida embrionária. O filhote de Purvasu e Priya desenvolverá um sistema esquelético que pode ser dividido em duas partes. Um esqueleto axial que, como o nome sugere, consistirá no eixo corporal, contendo as vértebras da coluna, os vários ossos da cabeça e as costelas. Além de sustentar o corpo do filhote, a coluna vertebral protegerá a medula espinhal. Os demais ossos formarão o que se chama de esqueleto apendicular. Como é um tetrápode, os ossos dos membros anteriores serão similares aos ossos dos membros posteriores, cada par vinculado a uma cintura. Os membros anteriores estão ligados a ossos da cintura escapular, os posteriores, a ossos da cintura pélvica. Da escápula aos dedos, os ossos dos membros anteriores são: úmero, rádio e ulna, carpos, metacarpos e três sucessões de falanges, cada sucessão tendo 5 falanges. Exceção: o polegar, que possui, ao todo, duas falanges. Membros posteriores: fêmur, tíbia e fíbula, tarsos, metatarsos, e as mesmas sucessões de falanges (inclusive a mesma exceção).

Animais como cavalos, porcos e bois possuírão a sustentação de seus membros anteriores e posteriores sobre uma unha. Embora seja desagradável imaginar uma coisa dessas. A unha desses animais é assaz resistente. Unha em latim é "ungulus". Chamemos esses seres de ungulados, portanto.

Para coordenar a movimentação de toda essa ossatura. O animalzinho será prendado com músculos esqueléticos, também chamados de músculos estriados .Desenvolverá, também, músculos lisos e um músculo cardíaco.

Os músculos esqueléticos são multinucleados, possuem muitos núcleos e obedecerão às determinações do animal. Isto significa que são músculos subordinados à vontade. De contração voluntária, o que não acontece com os músculos lisos e muito menos com o cardíaco.

Essa musculatura esquética pode ser divida em conformidade com a divisão do esqueleto: musculatura axial e musculatura dos membros pares. 

Um pouco de dialética agora: para cada músculo estriado do vertebrado, existe um músculo estriado oposto. Para que um deles se contraia, o outro precisa relaxar. Um é flexor e outro, extensor.




No intestino delgado, os nutrientes são absorvidos pela veia porta. Portanto, permita a graça, os nutrientes entram em nossos vasos sanguíneos pela “porta” para chegarem às células.

Aurora dos Mamíferos



A aurora dos mamíferos está ocorrendo agora, à sombra do império dos grandes dinossauros. O nascimento desta ordem à qual nós pertencemos não é assim tão glorioso. Não obstante, é um acontecimento milagroso e revolucionário. Esse surgimento é discreto. E tem de sê-lo. O senhores do planeta são répteis monstruosos e gigantescos. O pequeno mamífero observa, de sua toca, as enormes criaturas disputando um alimento entre si. Alguns medem metros de altura, outros, têm o seu tamanho. São ferozes caçadores. Para piorar, alguns deles voam e têm a espécie dele como predileta no menu. O pequenino sabe que não terá qualquer chance para sair e alimentar-se. Deve contentar-se com os insetos que come, mas não agora, pois é dia.

O pequenino não imagina e os sáurios gigantes ignoram sua existência, mas seus descendentes herdarão o planeta. Por quê? Porque o pequenino mamífero tem sangue quente. Ele é homeotérmico, coisa que os dinossauros não são. Dinos são animais heterotérmicos. Falando fácil, entre amigos, o sangue deles varia conforme o ambiente. Quando anoitecer e o tempo esfriar, aqueles mesmos assustadores e cruéis animais estarão praticamente sedados. O metabolismo deles estrá tão lento que se tornarão inofensivos. O meigo e pequeno mamífero poderá então sair da toca para se alimentar. Deverá ser assim por muito tempo. Nossos minúsculos ancestrais serão os vassalos desses senhores gigantes por uns 135 milhões de anos. Não terão como competir. Não poderão se expandir. Ainda.

Passaram-se milhões de anos desde que nosso pequeno amiguinho saciou-se naquela noite. Para seus descendentes as coisas ainda são da mesma forma. O nome destes remanescentes mamíferos é sugestivo: Purgatorius. A tarde está calma. A brisa cretácea sopra os campos e pântanos. Um monumental grupo dinossauros herbívoros se alimenta numa planíce que um dia pertencerá à Argentina. Um pterossauro em pleno voo se assustou com o estrondo e virou sua cabeça para ver. Um argentinossauro, ergue seu enorme pescoço para acompanhar a enorme bola de fogo que subitamente rasgou o céu, deixando um rastro de fumaça em direção ao norte, milhares de quilômetros dali. 

Só sobraram os pequenos animais. Darwin jamais disse que os fortes sobrevivem. Ele afirmou que os mais adaptados sobrevivem.

O mamífero placentário fêmea possui uma coisa que nenhum outro vertebrado tem. Um útero. Peixes não o têm. Nem dinos os tinham, ou aves.

A fecundação ocorre no interior do corpo da fêmea, em seu oviduto quando um óvulo estiver descendo. Muitos espermatozoides disputam a concepção. Quando um (sempre um!) espermatozoide penetrar o óvulo, essa disputa encerrar-se-á. O nomes atribuídos também. Não há mais um óvulo, mas um zigoto. Ou ovo. Esse zigoto sofrerá um processo chamado segmentação onde ocorrerão as clivagens, isto é, divisões celulares sem aumento de tamanho, por enquanto.Estas células-filhas resultantes serão agora denominadas blastômeros. Com pouco mais de 16 blastômeros, o zigoto também perderá esse nome e passará a chamar-se mórula. Para os lusófonos, a palavra mórula remete, às vezes, instintivamente, a amora, o que não é um problema, pois a mórula se parece muito com uma amora, sendo cada gomo, um blastômero. Como uma amora, a mórula também passará a conter um líquido em seu interior, mas abandonará esta denominação. A pequena Priya guarda em seu ventre agora uma blástula e o líquido em seu interior é a blastocele. Em seu ventre e não no útero ainda. A blástula viaja em direção a seu útero, mas algo ainda precisa acontecer: aumentar seu número de células. Depois de alguns dias, com mais de 60 células, a blástula chega ao útero e fixa-se na parede uterina.
Nomenclaturas: a parede uterina chama-se endométrio, essa fixação da blástula chama-se nidação e acontece mediante a ação de enzimas que praticamente digerem o endométrio. Sim, o embrião pratica um pequeno "canibalismo" nutrindo-se do endométrio de sua mãe. Outra coisa, as enzimas são produzidas por uma estrutura chama trofoblasto. O embrião em Priya, um Purgatorius ceratops fêmea, desenvolverá alguns anexos embrionários como saco amniótico e placenta. Entretanto, um deles é vestigial. Praticamente atrofiado. É o saco vitelínico. Embriões de seres humanos também o terão. O saco vitelínico em mamíferos placentários, grupo Eutheria, é uma recordação de que já fomos répteis um dia.

Por quê? Ora, a resposta é simples: o saco vitelínico é o responsável pela nutrição do embrião nos ovos dos répteis. Em mamíferos placentários, como o Purgatorius ceratops e o Homo sapiens, esse mister compete à placenta. Ademais, o saco vitelínico é o único anexo embrionário presente nos ovos de peixes e anfíbios. 


Vertebrados possuem pele. São consideradas partes da pele a epiderme e, abaixo desta, a derme.A epiderme consiste em células mortas estratificadas queratinizadas, de caráter pavimentoso. Portanto, não há vasos sanguíneos. A derme, não obstante, é vascularizada, pois é um tecido conjuntivo. No ventre de Priya, os tecidos do embrião começam a ser distinguidos. Essa fase é chamada de gastrulação. Três folhetos germinativos estão sendo formados: o mais externo é a ectoderme, o do meio é a mesoderme e o mais interno, a endoderme. Esses três folhetos germinativos gerarão todos os tecidos do embrião mamífero. A ectoderme dará origem à epiderme e aos tecidos nervosos. A endoderme formará órgãos do sistema digestivo e respiratório. A mesoderme gerará uma gama maior de tecidos e órgãos: músculos, ossos, derme, pericárdio, peristônio, vasos sanguíneos, coração...

A pele do rebento de Priya possuirá duas espécies de glândulas que ocorrem somente em mamíferos: glândulas sudoríparas e glândulas sebáceas. O nomes, per se, são muito sugestivos e definem sua acepção. Glândulas sudoríparas são responsáveis por secretar suor. O pequenino mamífero precisará suar, pois mamíferos são seres homeotérmicos, isto é, mantém a mesma temperatura corporal, não importando se o ambiente esteja quente ou frio. Se estiver quente, as glândulas sudoríparas fazeram-no suar para dissipar o calor de seu corpo. Se estiver frio, o animalzinho irá tremer-se, fazendo com que seu corpo produza algum calor. A glândula sebácea produz sebo. O sebo é secretado sobre os pelos de nosso corpo e possui caráter gorduroso. Tal substância gordurosa é útil para nossa pele, pois a deixa mais impermeável e elástica.


Mamíferos terrestres possuem pêlo. Isso é uma grande conquista. Reiteramos: mamíferos têm calor constante. São homeotérmicos e os pêlos ajudam a manter camadas de ar quente próximo à pele. 

Aurora dos répteis



Purvaru e Priya observam aqueles seres, os anfíbios, se dirigindo à lagoa para procriação. Purvaru e Priya não irão com eles. Não precisam depositar seus ovos naquela lagoa. Não mais. Por alguma operação divina, o código genético de Priya possui todas as instruções para a construção de ovos que prescindam de água como ambiente. Que instruções são essas? Bem, para que os subsistam fora d'água, esses ovos precisam ter uma casca rígida. Pelo menos, mais rígida que a de seus colegas de ecossistema, os anfíbios, para que não dessequem. Outras instruções importantíssimas escritas no DNA referem-se aos anexos embrionários. O saco vitelínico para nutrição(já existia nos anfíbios). Âmnio para proteção contra choques mecânicos. Alantoide para trocas gasosas e armazenamento de excretas. Além disso, o alantoide, uma das obras-primas do DNA réptil, remove o cálcio da casca do ovo e o emprega na construção do esqueleto do pequenino.

Purvarua é um indivíduo anápsido, o primeiro réptil. Pela primeira vez, um vertebrado não precisa viver em ambiente aquático. Ele possui pulmões melhores que os dos anfífios. Sua respiração não precisa do auxílio cutâneo. No acasalamento, Purvarua precisa fecundar sua parceira Priya antes que ela elimine o ovo, pois, obviamente, não conseguirá fecundá-lo depois. Já o dissemos: a casca é rígida. Purvarua-réptil deve fecundar Priya antes que o ovo receba sua casca. Fecundação interna. No interior de sua parceira. Para isto, o réptil possui um pênis. Sua parceira possui uma cloaca. A cloaca é uma abertura comum ao sistema digestivo, sistema excretor e reprodutor.
Após o acasalamento, Priya deposita seus ovos longe da água. São densos e ligeiramente porosos. O pequeninos répteis precisam respirar. Répteis semelhantes a seus pais. Larvas nunca mais. Nenhum herdeiro de Purvarua terá estágio larval a partir de agora. Os seres que romperem e saírem daqueles ovos vigiados por sua mãe não sofrerão qualquer mudança. 'Mudança' em grego é: 'metabolé'. 'Não' em grego é 'a'. Não mudam. São ametábolos.




Sua necessidade de água a partir de agora restringe-se à sua ingestão periódica. Pela boca mesmo. O réptil é o primeiro vertebrado que bebe água. Anfíbios não. Sapos não bebem água. Eles a absorvem pela pele.

Aurora dos Anfíbios



O coração dos anfíbios é um pouco mais desenvolvido que o de seus ancestrais, os peixes, pois há três cavidades: dois átrios e um ventrículo. Um ventrículo? Sim. Tudo bem. Não é tão desenvolvido assim. Um único ventrículo no coração faz com que o sangue arterial(rico em oxigênio) se misture ao sangue venoso(pobre em oxigênio). Assim, o oxigênio no sangue não é o suficiente para abastecer as células tod corpo do animal. A Providência precisou compensar isto. Anfíbios possuem, além da respiração pulmonar, respiração cutânea. Pela pele. Razão pela qual esses animais precisam manter sua pele úmida.

O aperfeiçoamento do coração foi um longo e lento projeto. Era necessário separar o sangue oxigenado do não-oxigenado no interior do coração. Parar com essa coisa de respirar pela pele.
A Evolução, então, encetou essa ideia dividir esses tipos de sangue neste órgão. Como? Os anfíbios darão origem aos répteis e, na maioria destes animais, o ventrículo começa a ser dividido ao meio. Começa. Não termina. Essa divisão, o septo de Sabatier, é incompleta nos répteis. Portanto, a circulação dos répteis é também incompleta. Entretanto, os crocodilianos apresentarão o septo de Sabatier completo e sua circulação também será completa. Os crocodilianos são uma exceção dentre os répteis.


O pulmão de uma sapo é muito simples. Tem a forma de uma saco. Saculiforme, portanto. A área de absorção no pulmão não é das maiores. Definitivamente, os anfíbios precisavam de outra ajuda para respirar.